sábado, 22 de agosto de 2009

Um crime sem respostas

Madeleine ganha atenção mundial, mas nenhuma pista

A menina britânica Madeleine McCann desapareceu no dia 3 de maio, em uma praia do litoral português, durante as férias da família no local. Mais de sete meses depois, não há nenhuma pista concreta ou informação sobre o que teria acontecido com a menina. Loira, de olhos claros, a criança tinha apenas 3 anos quando foi vista pela última vez por seus pais, que resolveram deixá-la e os dois irmãos gêmeos de 2 anos sozinhos no apartamento alugado em resort para jantarem perto dali junto com amigos. Segundo Kate e Gerry McCann, o restaurante estava a apenas 50 metros e eles se revezaram para checar se as crianças estavam bem.

Se, num primeiro momento, os pais chegaram a ser alvo de críticas por negligência ao deixarem os filhos sozinhos para ter uma noite de diversão, eles receberam grande apoio de celebridades e da população em geral. No total, o fundo para buscar pistas de Madeleine arrecadou 1,45 milhão de euros em doações. Entretanto, informações extra-oficiais divulgadas na imprensa portuguesa começaram a minar a imagem dos McCann. Jornais divulgaram, em agosto, que a polícia já considerava Madeleine morta, pois exames feitos no apartamento onde ela desapareceu indicavam vestígios de sangue e cheiro de cadáver. Logo depois, vieram as notícias de que os investigadores portugueses analisavam que Madeleine poderia ter sido vítima de uma morte acidental encoberta por seus próprios pais. As desconfianças receberam reforço no dia 7 de setembro, quando a polícia portuguesa declarou oficialmente pai e mãe suspeitos no desaparecimento.
No dia seguinte, Kate e Gerry voltaram para sua cidade na Inglaterra após quatro meses vivendo na pequena Praia da Luz. A estadia prolongada - Kate dizia que só iria embora quando encontrasse a filha - chegou a causar pedidos por parte dos moradores para que a família fosse embora, levando junto a horda de jornalistas e os prejuízos no turismo.
Até o momento, a polícia não encontrou um corpo, apesar das investigações, que chegaram a inspecionar um crematório próximo ao resort na Praia da Luz. O fato é lembrado constantemente pelos pais, que dizem que nenhuma evidência concreta de que Madeleine está morta foi apresentada até o momento e reforçam sua esperança de encontrá-la viva.
Com o objetivo de ganhar atenção para uma nova campanha de busca por Madeleine, eles chegaram a ir a um programa em canal de TV espanhol, onde Kate chorou ao lembrar as dificuldades nos dias seguintes ao desaparecimento. A relação de Kate com as crianças foi explorada pelos tablóides britânicos e portugueses, que chegaram a publicar trechos de diário dela, quando ela relatava as dificuldades de controlar os gêmeos e Madeleine. Kate chegou a desabafar, dizendo que sua "falta de ar maternal" era a causa da perseguição pela mídia.
O pai de Madeleine também não escapou das críticas. Um garçom do resort Ocean Club entrevistado pela imprensa portuguesa afirmou que Gerry estava relaxado e aparentemente menos preocupado que os amigos depois do desaparecimento da filha. Segundo ele, que não teve o nome divulgado, o médico teria inclusive organizado uma partida de tênis.
Logo depois, o casal McCann confirmou que usou dinheiro dos fundos de Madeleine para pagar a hipoteca da casa, o que não melhorou sua imagem perante o público. Até novembro, nenhum dos dois médicos havia voltado ao trabalho desde o desaparecimento da filha. Gerry retomou seu trabalho como cardiologista no Hospital Glenfield de Leicester em 1º de novembro. Já Kate afirmou que preferiria voltar a trabalhar ajudando crianças em vez de sua especialidade médica, clínica geral.
Polícia portuguesa é atingidaA polícia portuguesa, proibida de informar detalhes da investigação segundo a lei do país, também teve sua imagem abalada no caso. Além das críticas de especialistas de que eles demoraram a agir e que o local do desaparecimento não foi preservado como "cena de crime", o responsável pelas investigações foi afastado sob alegação de que "falou demais".
O famoso policial português Paulo Rebelo, conhecido por trabalho no combate ao narcotráfico e casos de pedofilia, substituiu Gonçalo Amaral do caso. Amaral, em declarações à imprensa, acusou a Polícia britânica de favorecer os pais. O diretor da Polícia Judiciária Portuguesa, Alípio Ribeiro, afirmou que decidiu afastar o oficial por ele ter "passado dos limites" policiais com as declarações à imprensa.
As pistasCom a campanha alavancada pelos McCann por informações de Madeleine, a polícia recebeu milhares de informações, mas nada foi comprovado. Uma psicóloga na Bélgica informou a polícia que havia visto uma menina parecida com Madeleine em um café junto com um homem e mulher. Testes de DNA feitos em copo e canudos usados no lugar descartaram a hipótese.
Uma turista espanhola entregou à polícia uma foto, tirada no Marrocos, de uma criança parecida com Madeleine, com cabelo loiro, junto a uma mulher de aspecto norte-africano. A Interpol chegou a estudar a pista, que logo caiu por terra quando um fotógrafo conseguiu localizar em vilarejo no Marrocos a criança fotografada, uma menina de 3 anos chamada Bouchra.
O Marrocos voltaria a ser indicado como possível "esconderijo de Madeleine" quando Naoul Malhi, de origem marroquina, disse à imprensa britânica ter olhado no olho de uma menina e ter reconhecido a marca distinta de Madeleine, onde a íris se mistura com a pupila. E o país parece ser a aposta dos pais, que colocaram os detetives particulares contratados para fazerem buscas no local.
Sob boatos de que os investigadores portugueses estariam prestes a encerrar as investigações, Madeleine continua sendo alvo de interesse mundial. Especialistas indicam que, à medida que o tempo passa, as chances de Madeleine ser achada com vida diminuem. Assim como milhares de outras crianças desaparecidas, o destino da menina pode ser uma incógnita sem fim.

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